domingo, 9 de outubro de 2011

Uma carta à minha vida ;

Vida,

Estou escrevendo para te dizer que apesar das pessoas permanecerem as mesmas, das mesmas coisas continuarem a me perseguir, dos mesmos sonhos continuarem a tentar me preencher e dos mesmos medos continuarem a tentar me assustar, eu percebo que tudo está diferente.
Não que tenha me dado conta no começo... Simplesmente acordei um dia percebendo tudo ao contrário: as coisas certas se transformaram em erradas; as pessoas que antes me faziam feliz agora já não eram mais tão importantes para mim; os sonhos que antes julgavam merecedores de luta, não passaram de esboço para os verdadeiros; e aquilo no qual acreditava era apenas uma ilusão.
Sabe vida, no começo pensava que quem havia mudado eram as coisas, os sonhos e as pessoas, mas com o tempo percebi que tudo continuava o mesmo e o que havia mudado tinha sido eu.
“Mudança”... Uma palavra tão pequena, mas carregada de poder. De um poder capaz de destruir o meu mundo, tal como uma gigantesca onda, uma verdadeira tsunami, capaz de destruir uma cidade completa.
Sim, vida, ela destruiu o meu mundo. Meus pensamentos antigos foram substituídos por pensamentos mais substanciais. Meu sonho de ser a presidente do país e de visitar o Papai Noel deu lugar a outros com mais importância, com mais valor e que me dão mais prazer, tais como: a conclusão da minha faculdade, um mestrado, a criação de uma empresa e de uma fundação para ajudar os animais abandonados, o desejo de viajar por todos os países e de dar sempre o meu melhor.
Sim, vida minha, a “mudanças” destruiu o meu castelo de vidro perfeito. Os amigos e os amores de ontem, foram superados pela distância, pelo tempo, por outros sentimentos. Enfim, nossos caminhos se descruzaram entre alguma das bifurcações pelas quais passamos e assim nos afastamos. Foi dessa forma, que os novos amigos e os novos amores foram aparecendo, alguns duraram bem mais, outros não passaram de momentos... Alguns ainda permanecem comigo, outros o tempo se encarregou de levar embora.
Sim, vida minha, a tsunami levou metade da minha cidade com ela, mas não pense que isso me deixa triste, pelo menos não mais. Pois essa onda me possibilitou recomeçar e ver o tamanho da minha coragem e da minha audácia, em fazer dos cacos, dos amontoados de pedras e telhados quebrados, um novo lar.
Ei vida, senti muito medo, sabia? Medo de perder a essência, de perder o meu eu, de me perder e de não saber como me encontrar em meio ao caos. Entretanto, consegui. E com a mudança, não mudei somente o exterior, meu mundo interior foi modificado também.
Deixei de ser aquela criança que corria assustada para os braços do pai com medo dos sons do trovão para dançar na chuva. Deixei de ser aquela moça que temia falar ou fazer as coisas erradas com receio da opinião dos outros. Deixei de ser aquela menina imatura, para ser a mulher confiante de hoje. Deixei de me preocupar com as aparências, para valorizar a essência. Deixei de chorar pelo que não poderia ser mudado ou pelo futuro, para me concentrar no agora.
E assim fui crescendo... Fui mudando... E sem que percebesse fui amadurecendo e aprendendo que as mudanças nada mais são do que amadurecer, seja de forma consciente ou não.

Com amor,
sua alma.

Pauta para o projeto Bloínquês
Cartas 21ª Edição

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